Luanda - Laura Macedo afirmou à DW estar a receber ameaças de violação e até de morte por parte de indivíduos não identificados. A ativista aponta o dedo às autoridades, que, segundo diz, podem estar envolvidas nas ameaças.
Fonte: DW
A ativista angolana Laura Macedo denuncia estar a receber ameaças de violação e até de morte por parte de indivíduos não identificados. Em entrevista à DW, a ativista relata que, durante uma deslocação a Malanje, esta quinta-feira (31.07), começou a ser alvo de ameaças. Refere ainda que "a única pessoa a quem disse que estava em Malanje foi ao comandante municipal da polícia de Kalandula".
Laura Macedo adianta que irá apresentar queixa junto da Procuradoria-Geral da República (PGR), embora afirme não confiar nesta instituição, muito menos na polícia.
DW África: Em que contexto surgiram estas ameaças?
Laura Macedo (LM): Esta manhã, tentei averiguar o que se passava com o ativista Gildo André, em Malanje, no município de Kalandula, porque a sua casa estava cercada. Ontem, o comandante municipal quis falar com ele à noite, mas ele não se encontrava em casa. Esta manhã, ao acordar, a casa estava cercada por elementos das autoridades. Liguei então ao comandante municipal de Kalandula para tentar perceber o que se passava e o motivo daquele aparato. Durante a conversa, disse-lhe que estava em Malanje e que me dirigia para Kalandula. Pouco tempo depois, recebi uma ameaça com palavras obscenas — que não vou aqui repetir — onde me intimidavam e ameaçavam com violação e até morte. Deduzo a ameaça de morte pelo facto de terem dito que eu podia sair de Malanje como uma encomenda.
O que pretendo é que a comunidade internacional tenha conhecimento do que está a acontecer — as ameaças a ativistas continuam. Eu própria sou vítima. É importante que o mundo esteja atento ao que se passa em Luanda.
DW África: A pessoa que faz as ameaças identificasse?
LM: Não.
DW África: Acha que existe alguma ligação com a polícia, tendo em conta que a única pessoa que sabia que a Laura Macedo estava em Malanje era o comandante da região?
Laura Macedo (LM): Isso é o que mais me preocupa — o facto de a pessoa que enviou a mensagem ter frisado que eu estava em Malanje. A única pessoa a quem revelei essa informação foi ao comandante municipal de Kalandula, por telefone, esta manhã. Portanto, causa-me estranheza que não possamos confiar num comandante da polícia.
DW África: Perante esta intimidação, vai deixar de se expor publicamente em defesa do que considera ser justo, neste momento de instabilidade e violência?
LM: Eu estou na rua. Eu estou a tentar ajudar e apoiar os familiares das pessoas que faleceram. Já estive no Hospital Geral e no hospital da Camama, a tentar perceber quem está doente, quem foi baleado, para que se possa prestar algum apoio. Como é do conhecimento geral, os nossos hospitais não têm medicamentos nem meios para tratar os doentes — e esse é o meu trabalho. E nada me vai demover.
DW África: Valeria a pena contar com o apoio da polícia para identificar o autor das ameaças?
LM: Estou a preparar uma carta para apresentar a denúncia à Procuradoria-Geral da República, porque se eu partilho uma informação com um comandante municipal da polícia nacional e, pouco depois, recebo uma ameaça, então não posso confiar na polícia nacional.
DW África: E confia na PGR?
LM: Vou apresentar a denúncia à PGR e esperar para ver o que farão com ela. Porque já apresentámos muitas denúncias à PGR, por escrito, e nunca recebemos sequer um aviso, uma nota ou um telefonema a dizer: "A sua denúncia foi recebida e está a ser tratada".