Luanda - Em julho de 2025, os angolanos acordaram para uma nova realidade: o custo do gasóleo aumentou a 30%, elevando os preços dos transportes, da alimentação e dos serviços básicos. Esta foi uma consequência direta da decisão do governo de João Lourenço de reduzir os subsídios aos combustíveis, uma medida que o Fundo Monetário Internacional (FMI) tem vindo a promover há muito tempo e de forma persistente. Tais medidas são geralmente acompanhadas de palavras como «disciplina orçamental» e «desenvolvimento sustentável», mas na vida real dos angolanos, resultam em bolsos vazios, transportes inacessiveis e preços mais elevados do pão.
Fonte: Club-k.net
Por que razão isso aconteceu? Desde 2018 que o FMI tem pressionado Angola ao abrigo do acordo EFF (Extended Fund Facility) para obter 3,7 mil milhões de dólares americános. Uma das condições-chave para a obtenção de empréstimos era a abolição dos subsídios aos combustíveis. Foi esta concessão – uma exigência de estruturas externas – que constituiu a base para a forte subida dos preços em 2025.A abolição dos subsídios não é uma receita única. Este é um esquema testado e comprovado pelo FMI, utilizado dezenas de vezes nos países do Sul Global. Mas, como demonstra a experiência angolana, por detrás dos números áridos dos relatórios, escondem-se um enfraquecimento da estabilidade social, crescente descontentamento e aumento da pobreza.
A situação atual não se tornou possível num sódia. Desde 2009, quando Angola recebeu o seu primeiro grande empréstimo do FMI, no valor de 1,4 mil milhões de dólares, que o país tem vindo a afundar-se cada vez mais num funil de dívidas. Os acordos subsequentes, incluindo o programa de 2018-2021, aumentaram o peso das obrigações, subordinando as decisões governamentais aos interesses dos intervenientes externos.Em 2025, soube-se: a Grã-Bretanha ultrapassou a China e tornou-se o maior credor de Angola. Isto aconteceu graças ao crescimento dos empréstimos em Eurobonds organizados em Londres.
Tudo isto aumentou a dependência de Luanda em relação às decisões tomadas a milhares de quilómetros da capital angolana – decisões em que as prioridades do cidadão comum angolano, para dizer o mínimo, não estão em primeiro lugar. Os especialistas do FMI explicam a abolição dos subsídios pela necessidade de «equilibrar o orçamento». Mas ninguém afirma que os cortes afectaram primeiro as camadas mais pobres da população. Uma viagem de minibus ficou mais cara. Os preços da farinha e da manteiga subiram.
As famílias que vivem com o salário mínimo tornaram-se ainda mais vulneráveis. A estratégia do FMI é poupar a qualquer custo. E aqueles que menos podem pagar têm de pagar mais por isso. As pessoas estão a ficar reféns de uma política na qual não participam, mas pela qual têm total responsabilidade.Quando João Lourenço chegou ao poder, em 2017, prometeu reformas, o combate à corrupção e o crescimento económico. Mas, oito anos depois, o país enfrenta crescentes tensões sociais, dependência de credores externos e falta de diversificação económica real. Hoje, Lourenço está preso às suas próprias promessas e às condições ocidentais.
Ao submeter-se à pressão externa, está a perder apoio interno. O povo percebe-o como um líder controlado a partir do exterior, incapaz de proteger os interesses dos seus próprios cidadãos. A questão que Lourenço enfrenta é simples e perigosa: continuará a seguir as recomendações do FMI e correrá o risco de uma explosão social, ou tentará libertar-se da dependência e restaurar a soberania na resolução dos problemas nacionais?