Luanda – O Movimento Cívico MUDEI veio a público manifestar a sua posição em relação aos confrontos registados entre os dias 28 e 30 de Julho, que abalaram Luanda e outras regiões do país. Em comunicado divulgado esta terça-feira, o movimento condena a actuação do Estado face à crise social e exige a demissão do Governo, responsabilização criminal dos agentes envolvidos e abertura urgente de um diálogo nacional.
Fonte: Club-k.net
Segundo o comunicado, os protestos foram desencadeados pelo aumento de 33% no preço do gasóleo, medida implementada de forma “abrupta e sem qualquer programa de mitigação social”, o que terá afectado directamente o custo de vida dos cidadãos, principalmente no sector dos transportes.
A paralisação convocada por associações de taxistas acabou por catalisar, segundo o MUDEI, “a insatisfação popular mais profunda” ligada à fome, ao desemprego e à ausência de perspectivas. O movimento critica a alegada desinformação difundida pelos órgãos públicos quanto à realização da greve e aponta interferência de agentes estatais na ANATA, associação promotora da paralisação.
Repressão excessiva e números alarmantes
No comunicado, o MUDEI denuncia a resposta “desproporcional” das forças de segurança, apontando um balanço trágico: pelo menos 30 mortos, incluindo jovens e uma criança; 277 feridos; 1.500 detidos, muitos ainda sem acesso a defesa legal; 91 estabelecimentos vandalizados e 25 viaturas destruídas.
O movimento destaca o caso de uma mulher baleada pelas costas como símbolo da brutalidade policial, e critica duramente a mobilização de tropas militares para conter a população, considerando a acção como uma perigosa “militarização da resposta a um problema social”.
Críticas ao silêncio do Presidente
O MUDEI considera “inaceitável” o silêncio do Presidente João Lourenço face aos acontecimentos. Para o movimento, a ausência de uma mensagem de solidariedade ou de responsabilização por parte do Chefe de Estado revela uma “falta de empatia” e um “distanciamento profundo” em relação ao povo.
“Ocupante do cargo de Presidente da República” é como o comunicado se refere a João Lourenço, colocando em causa a sua legitimidade para continuar a liderar o país.
Reivindicações principais
Entre as exigências apresentadas, o Movimento Cívico MUDEI pede: • A demissão imediata do Governo; • Um diálogo nacional inclusivo, com taxistas, juventude, comunidades e sociedade civil; • A responsabilização criminal dos agentes envolvidos nas mortes e agressões; • O fim da criminalização da pobreza e respeito pelo direito ao protesto; • Políticas públicas redistributivas que promovam justiça social com transparência.
“Explosão social era inevitável”
O movimento rejeita a narrativa oficial que caracteriza os protestos como “desordem”. Para o MUDEI, o que ocorreu foi o resultado de uma equação simples: “Aumento do combustível + repressão + fome = explosão social”.
No fecho do comunicado, o MUDEI apela à união de todos os sectores da sociedade para a construção de uma Angola onde “a justiça, a democracia e a dignidade humana deixem de ser promessas esquecidas para se tornarem realidade vivida”.
“A hora da mudança chegou”, conclui o comunicado, assinado com o lema: “Eu mudei para que Angola mude”.