Luanda - Página Um - ETERNO PRESIDENTE. O mandato de Isaías Kalunga terminou. A legitimidade evaporou-se. Mas ele insiste em ficar. Grudado ao cargo como carrapato em pele de boi. Ignora a Lei das Associações.
Fonte: Club-k.net
Ignora os estatutos do próprio CNJ. Ignora as vozes que exigem a sua saída. Pode vir a abandonar o cargo apenas em 2026, provavelmente depois do IX Congresso do MPLA, dizem fontes seguras. A sua agenda é um reflexo fiel da de João Lourenço. Podem protestar. Podem berrar.
Podem arrancar o cabelo. Kalunga vai manter-se de pedra e cal. Tem protecção divina. Sempre avisou: “Deus era connosco.” Connosco = ele. Deus = Presidente da República. Quando se tem fé politicamente assegurada, a lei torna-se opcional. O poder político em Angola anda sem espelho.
Página Dois — MORTE NO LIXO. Dois adolescentes foram triturados dentro de um camião de lixo, em Luanda. Procuravam comida. Encontraram a morte. As fotos correram nas redes sociais. As autoridades não disseram nada. A sociedade não se indignou. Silêncio oficial.
Indiferença colectiva. Falência moral. A vida humana em Angola vale tanto quanto uma nota falsa de mil kwanzas. A dignidade anda à procura de dignidade. Quando o Presidente da República afirma que a fome é relativa, a vida também passa a ser tratada como relativa. A vida humana em Angola vale pouco. Muito pouco.
Página Três — SENHOR “ORDENS SUPERIORES”. Em Angola há três categorias de poder: Os que pensam que mandam. Os que fingem que mandam. E os que mandam mesmo. Quem manda mesmo chama-se “Ordens Superiores”. Não tem rosto.
Não tem gabinete. Não tem assinatura. Mas tem força. Foi esse espectro omnipresente que impediu sete activistas angolanos e dois namibianos de embarcarem para Cabo Verde. Iam participar num encontro sobre juventude e democracia. Aconteceu esta quinta-feira, em Luanda. Foram barrados sem justificação legal. Métodos da Gestapo. Selo tropical. O senhor “Ordens Superiores” sobrepõem-se às leis e à Constituição.
Página Quatro — DA PROMESSA À RETIRADA. Ao pobre não prometas. Ao rico não devas. Há quem aprenda. Há quem repita. Os cidadãos de Cabinda são pobres num território rico. Em 2017, João Lourenço prometeu subsídios nas passagens da TAAG. Prometeu e cumpriu. Mas, em 2024, revogou o subsídio. Viajar para Cabinda voltou a ser penitência. Bilhetes caríssimos. Voos adiados sem explicação. Passageiros abandonados no aeroporto. É o próprio Executivo a alimentar o discurso autonomista. A dar guita a quem reclama a independência do exclave de Cabinda. A TAAG está a ajudar a legitimar tal reivindicação. E a TAAG precisa de uma direcção competente. Com urgência.Senhor Presidente da República, Titular do Poder Executivo: O Ministério dos Transportes está a precisar de um abanão.
Página Cinco — VÍTIMAS COLATERAIS. Ganha força a tese de que Carolina Cerqueira caiu por se alinhar com Higino Carneiro. O general cometeu o pecado de assumir que queria candidatar-se à liderança do MPLA. A máquina virou-se contra ele. Estão a tratá-lo como um opositor político.Carolina foi a primeira vítima de grande monta. E quem se aproximar, cai. Ismael Mulemba, administrador de Calulo, foi exonerado por ter convidado Higino Carneiro para um evento local. O partido no poder transformou Higino Carneiro num alvo a abater.
Última Página — DESMENTIR O PRÓPRIO LIVRO. Em 2014, Esteves Hilário publicou A institucionalização das autarquias. Defendeu a descentralização. Argumentou com rigor jurídico. Parecia acreditar. Onze anos depois, no Parlamento, afirmou: “O povo não come autarquias.” E fez três figuras ao mesmo tempo:1. Amnésico conveniente. Eu explico: Lembrou-se de esquecer o que escreveu.2. Político sem coluna. Eu explico: Intelectual no livro. Carreirista no microfone.3. Demagogo básico. Eu explico: Confunde fome com falta de democracia. Como se o povo comesse centralismo ou clientelismo. Falando depressa e bem: Esteves Hilário escreveu um livro com ideias.
Agora faz política activa com medo delas.Sobe nas palavras e deixa-as cair como cascas no quintal. Está no bom caminho para ganhar o desrespeito do cidadão-eleitor.