Luanda - Guiné-Bissau em crise. Líderes políticos alegadamente detidos e militares suspendem eleições. País vive pânico e incerteza, enquanto cresce apelo à intervenção internacional.
Fonte: DW
A Guiné-Bissau vive uma grave crise política após relatos da detenção de figuras de destaque, incluindo Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC, e Fernando Dias, candidato presidencial. A informação foi avançada por Dionísio Pereira, deputado do PAIGC, que alertou para um cenário de incerteza e pânico.
Segundo Pereira, Simões Pereira e outros dirigentes, entre eles o advogado Octávio Lopes, terão sido conduzidos à Segunda Esquadra. Há indícios de que apoiantes da candidatura de Fernando Dias também possam estar detidos ou escondidos.
A tensão aumentou após um comunicado das Forças Armadas anunciando a suspensão do processo eleitoral e a assunção das funções do Estado. "Se tomam controlo das instituições, só podemos chamar golpe", afirmou Pereira, considerando tratar-se de uma tentativa de impedir a divulgação dos resultados, que, segundo ele, dariam vitória a Fernando Dias.
O recolher obrigatório imposto pelos militares gerou pânico em Bissau, deixando a população em alerta. O futuro político do país permanece incerto.
DW África: Neste momento, fala-se na Guiné-Bissau da detenção de Domingos Simões Pereira e do candidato Fernando Dias. Já tem confirmação disso?
Dionísio Pereira (DP): Bom, neste momento temos a informação de que Domingos Simões Pereira foi detido juntamente com alguns dirigentes, nomeadamente o advogado Dr. Octávio Lopes, e foram conduzidos para as instalações da Segunda Esquadra. É uma informação que ainda precisamos de confirmar, mas o que nos chegou é que estão detidos nas celas dessa esquadra.
DW África: E onde estão os restantes dirigentes do partido? Onde está a direção de campanha de Fernando Dias?
DP: Neste momento, ninguém sabe ao certo. Todos temem pela sua segurança e pela sua vida. Como pode imaginar, houve uma comunicação da cúpula militar que impôs recolher obrigatório. Isso gerou pânico na cidade e não se sabe onde se encontram os principais dirigentes. Também recebemos informação de que foi ordenada a detenção de todos os dirigentes e apoiantes do Dr. Fernando Dias, pessoas envolvidas na campanha eleitoral. Assim, não se sabe o paradeiro de muita gente. Alguns estarão escondidos, outros não sabemos o que lhes aconteceu. O país está eDemocracia na Guiné-Bissaum pânico.
DW África: Incluindo Fernando Dias e Domingos Simões Pereira? Não se sabe ao certo onde estão?
DP: Sim, exatamente.
DW África: Qual é a leitura que faz do que está a acontecer na Guiné-Bissau? É um golpe para anular as eleições? Como avalia este posicionamento dos militares?
DP: Vamos basear-nos no comunicado dos militares e no que informaram à opinião pública. Primeiro, suspenderam o processo eleitoral e dizem que assumiram as funções do Estado. Ora bem, se assumem as funções do Estado e tomam controlo das instituições, não há outro nome para isto: é um golpe.
DW África: Mas é um golpe contra o Presidente cessante? Amanhã a CNE ia anunciar os resultados das eleições. Isto faz sentido?
DP: Não faz sentido. Não se dá um golpe contra um Presidente cessante porque as eleiçõespara Presidente da República pressupõem que o cargo está vago. Se a cadeira do Presidente não estivesse vaga, não haveria necessidade de eleições. Portanto, não se pode dizer que é um golpe contra o Presidente da República, porque neste momento não temos Presidente. O que está claro é que toda esta encenação visa impedir a divulgação dos resultados eleitorais que dariam vitória ao Dr. Fernando Dias da Costa.
DW África: Qual deveria ser o papel da comunidade internacional e dos observadores?
DP: Neste momento, nem a sociedade civil nem os dirigentes políticos sabem o que vai acontecer. As Forças Armadas disseram que vão assumir as funções do Estado. Não sabemos de que forma vão gerir o país ou exercer essas funções. Por isso, penso que o povo da Guiné-Bissau precisa da solidariedade da comunidade internacional e de um posicionamento concreto para salvaguardar os valores democráticos.